sábado, 4 de dezembro de 2010

A ESTABILIDADE DINÂMICA DURANTE A CORRIDA DE ATLETAS DE FUTSAL COM E SEM O USO DE BANDAGENS FUNCIONAIS

A ESTABILIDADE DINÂMICA DURANTE A CORRIDA DE ATLETAS DE FUTSAL COM E SEM O USO DE BANDAGENS FUNCIONAIS

Por: Rafael Marques Ferrer: Professor do Curso de Fisioterapia – ULBRA, Santa Maria, RS
Leonardo Alexandre Peyré-Tartaruga: Professor do Programa de Pós Graduação em Ciências do Movimento Humano – UFRGS, POA, RS
Gustavo Portella: Pesquisador Voluntário – UFCSPA, POA, RS
Adriana Moré Pacheco: Professora do Curso de Fisioterapia – UFRGS, POA, RS


1. INTRODUÇÃO

Uma das principais lesões no futsal é a entorse do tornozelo (KURATA et al, 2007) devido a grande exigência dos membros inferiores neste esporte que se caracteriza por movimentações com grande velocidade em determinados padrões de jogo, sistemas de ataque e em contra-ataques (CHAGAS et al., 2005). Para tal, um dos principais recursos fisioterapêuticos na reabilitação desta lesão é a bandagem funcional (DI STEFANO et al., 2008; PACHECO et al., 2007) utilizada como fator de proteção durante o tratamento, mas também como recurso de prevenção de novas lesões durante o retorno à prática desportiva. No entanto, muitos clubes ou equipes, por desconhecimento da comissão técnica ou por falta de recursos, optam por utilizar uma bandagem não funcional nestas situações, que possivelmente não obterá os efeitos da bandagem funcional, podendo inclusive causar danos a articulação do atleta.

2. OBJETIVO

Investigar se o uso de bandagem funcional em atletas de futsal altera a estabilidade dinâmica da corrida.

3. MATERIAL E MÉTODOS
A amostra foi constituída por dois atletas de futsal do sexo masculino: o atleta A com idade de 19 anos, massa de 69,1 kg, estatura de 181,5 cm e comprimento do membro inferior de 96 cm (distância entre o trocânter maior do fêmur e o solo, com o indivíduo na posição ereta e com o tênis usado durante a corrida em esteira); e o atleta B com idade de 23 anos, massa de 69,3 kg, estatura de 179 cm e comprimento do membro inferior de 92 cm.
Para realização da coleta foram utilizados os instrumentos do Laboratório de Pesquisa do Exercício (LAPEX) da UFRGS: uma câmera de vídeo com freqüência de 50 Hz (JVC GR-DVL 9800 – JVC Company of América, Wayne, New Jersey, USA), duas fitas mini-DVD, dois holofotes, um calibrador tridimensional Peak Performance (Peak Performance Technologies Inc), uma esteira rolante da marca Quinton (Seatle, USA) e um micro-computador.
Além disso, foram usados: ataduras de crepom cuja composição é de algodão, poliamida e poliéster, para a produção da bandagem não funcional, e esparadrapos compostos de algodão com resina acrílica para a produção da bandagem funcional, bem como um cronômetro, uma fita métrica, uma balança eletrônica e um estadiômetro para as medidas de massa, estatura e comprimento de membro inferior.
Os sujeitos foram informados do objetivo do estudo, dos riscos e eventuais desconfortos e assinaram um termo de consentimento, conforme normas do Comitê de Ética da UFRGS. O local da coleta dos dados foi o Laboratório de Pesquisa do Exercício (LAPEX) da ESEF da UFRGS. Os atletas estavam vestidos com roupas apropriadas para treino de futsal. Antes da realização da filmagem da corrida, foram feitas as medições da massa corporal, da estatura e do comprimento do membro inferior dominante de cada sujeito. Para a filmagem 2D, a câmera estava posicionada a 3 metros da esteira perpendicular ao plano sagital do atleta, a fim de analisar o lado dominante.
O protocolo foi constituído de um aquecimento na esteira por 5 minutos, para depois o atleta correr em uma velocidade auto-selecionável, que fique em torno de 10 km/h (velocidade usada na movimentação dos padrões de jogo do futsal) por 90 segundos, finalizando a uma corrida de 14 km/h por mais 90 segundos (velocidade usada nas saídas rápidas da defesa para o ataque). Esta atividade foi repetida com o atleta sem a bandagem, com uma bandagem não funcional e com uma bandagem funcional, tendo um intervalo de 5 minutos entre os testes. Admitiu-se que o início do ciclo da passada era determinado pelo primeiro toque do pé direito do atleta na esteira, e o fim do mesmo ciclo de passada, pelo próximo toque do mesmo pé. Foi calculado o coeficiente de variação do tempo de passada correspondente a nove ciclos de passadas consecutivos, em cada situação de bandagem e nas duas velocidades de corrida, escolhido através da análise do vídeo pelo software Dvideow 5.0.

4. RESULTADOS

Existem dois parâmetros cinemáticos da marcha capazes de serem relacionados à estabilidade dinâmica. Um deles relacionado a cinemática angular das articulações dos membros inferiores, e outro, que nos interessa neste momento, relacionado a cinemática linear que é a variabilidade do tempo de passada (VTP). Segundo os autores, uma baixa VTP reflete em uma marcha automatizada, controlada e segura, enquanto que uma alta
VTP é um indicador de uma marcha instável e com grandes riscos de quedas (BEAUCHET et al., 2007). Através dos gráficos é possível comparar o coeficiente de variação do tempo de passada entre as situações de bandagem e notar que seu valor é sempre maior na corrida com uma bandagem não funcional, ou seja, nessa situação o atleta tem menor estabilidade durante a sua locomoção, representando maior risco de desequilíbrios durante o deslocamento e, conseqüentemente, maior risco de lesão. Além disso, os resultados comprovam que a bandagem funcional promove a maior estabilidade, sendo interessante notar que na corrida em velocidade de 10 km/h e na corrida do atleta A na velocidade de 14 km/h o uso de bandagem funcional representa maior estabilidade inclusive em relação a corrida sem bandagem. Faz-se importante ressaltar que o aumento da velocidade da corrida, faz com que os valores do coeficiente de variação nas situações de bandagem também aumentem, representando um decréscimo da estabilidade dinâmica. Este comportamento é o inverso na corrida sem bandagem, onde o aumento da velocidade representa menor risco de instabilidade.

5. CONCLUSÃO

Comparando as situações de bandagens, os resultados evidenciam que o uso da bandagem funcional fornece maior estabilização durante a corrida, comprovando, dessa forma, sua função de prevenção contra lesões. Além disso, o acréscimo de velocidade aumenta os riscos de instabilidade quando o atleta utiliza alguma forma de bandagem e torna-os menores quando corre sem nenhuma bandagem. Estes resultados são indicadores da necessidade de estudos complementares sobre a locomoção de atletas com o uso de bandagens funcionais através de outras metodologias. As alterações no comprimento da passada sugerem que também haja alteração na velocidade e amplitude angular (PEYRÉ-TARTARUGA et al., 2002), bem como na coordenação inter-membros e intra-membros durante a corrida (STHEPENSON et al., 2008).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEAUCHET, Olivier; ALLALI, G.; BERRUT, G.; DUBOST, V. Is lower-limb kinematic variability alwaays na índex os stability? Gait and Posture. Amsterdam: Elsevier, 2007. 2p.
CHAGAS, Mauro Heleno; LEITE, Cláudio Manoel Ferreira; UGRINOWITSCH, Herbert; BENDA, Rodolfo Novellino; MENZEL, Hans-Joachim; SOUZA, Pablo Ramon Coelho; MOREIRA, Enderson Alves. Associação entre tempo de reação e de movimento em jogadores de futsal. Revista Brasileira de Educação Física e Esportes. São Paulo: USP, 2005. 7p.
DISTEFANO, Lindsay; PADUA, Darin; BROWN, Cathleen; GUSKIEWICZ, Kevin. Lower extremity kinematics and ground reaction forces after prophylactic lace-up ankle bracing. Journal of Athletic Training. Dallas: NATA, 2008. 8p.
KURATA, Daniele Mayumi; JUNIOR, Joaquim Martins; NOWOTNY, Jean Paulus. Incidência de Lesões em Atletas Praticantes de Futsal. Iniciação Científica. Maringá: CESUMAR, 2007. 7p.
PACHECO, Adriana Moré; PACHECO, Ivan; MEURER, Maurício Couto; SILVA, Marcelo Farias. Análise da influência da bandagem funcional de tornozelo no tempo de reação do fibular longo. Anais do XII Congresso Brasileiro de Biomecânica. São Paulo: TEC ART, 2007. 6p.
PEYRÉ-TARTARUGA, Leonardo Alexandre; LARRONDA, Ana Carolina; RIBAS, Leonardo; TARTARUGA, Marcus Peikriszwili; LOSS, Jefferson; KRUEL, Luiz Fernando. Kinematic analysis of middle distance runners during treadmill and deep water running. Anais do XX International Symposium on Biomechanics in Sports. Caceres: Facultad de Ciencias del Deporte, 2002. 4p.
STEPHENSON, Jennifer; LAMONTAGNE, Anouk; DE SERRES, Sophie. The coordination of upper and lower limb movements during gait in healthy and stroke individuals. Gait and Posture. Amsterdam: Elsevier, 2008. 6p.

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