sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Exercendo a liderança

             
               Muito se fala acerca de liderança. Comenta-se aos quatro ventos que um comandante de uma equipe deve conhecer vestiário, outros dizem que ele deve entender de bola. alguns afirmam que ele deve ser duro, ainda, dizem que um líder tem que treinar bem, modificar bem. São tantas variáveis que ficaríamos debatendo por horas. Enfim, acho que a função de um líder é conseguir os resultados que se espera do grupo. Para tanto, é fundamental que a equipe tenha compromisso, talento e motivação proporcionais aos objetivos traçados. É responsabilidade do comandante da equipe extrair o melhor de cada integrante a fim de que, somados, construam um coletivo forte.
               Ao surgir uma equipe vencedora e que se perpetua na história por uma incrível capacidade de continuidade no topo, logo se tem a visão de um perfil vencedor no comando (são exemplos: a nossa seleção de vôlei com o Bernardinho, a Malwee com o Ferretti no futsal, o Barcelona de Guardiola no futebol). Fomentar o compromisso em um grupo é a peça chave no processo. Arsene Wenger, treinador do Arsenal, diz o seguinte: "O treinador deve se comportar como um esportista de elite. Deve estar em forma, não beber nem fumar, nem sair a noite. Senão, é muito difícil conseguir que os jogadores tenham os mesmo comportamentos". Ora, esse depoimento do, consagrado, treinador londrino evidencia que a maneira de ser do líder é pautada pelo exemplo. Ele deve ser o primeiro a chegar e o último a partir, o compromisso deve ser o sobrenome do líder, de tal forma que seja conhecido pelo prazer escancarado na rotina cumprida em seu local de trabalho. Ferran Soriano (diretor do Barcelona) diz que o compromisso é autêntico e sua origem está no interior da pessoa, porém, estimulado e agrupado na equipe gera grandes resultados. Há motivação maior do que o líder ser o mais motivado e comprometido?
               Além de compromisso é função do líder formar a equipe, descobrindo as características individuais de cada integrante. Descobrir líderes, estimular o debate e a liberdade de opinião. Delegar funções e enfatizar o respeito a ação individual dentro daquilo que é proposto. No que tange ao dia-a-dia, a motivação do grupo de trabalho tem de ser abordada, estimular a competitividade, tirar da homeostase, fazer dos desafios uma constante. Todas essas funções devem ser precedidas de muita firmeza. Em depoimento Deco (2005) conta que o Barcelona só venceu o certame de 2004/2005 graças a um encontro onde o treinador Rijkaard era o mediador do debate e todos os atletas falavam sobre seus anseios e suas incertezas. O comandante tem que possuir flexibilidade. Ele deve ser maleável as características do grupo, do clube e do local onde trabalha. Em um de meus estágios na equipe Malwee em Jaraguá do Sul verifiquei a forma que o professor Ferretti estimulava e "criava" líderes, os jogadores Chico e Xande eram estimulados a dialogar com todos os estagiários sobre a estrutura de defesa e as variações da equipe, eles se sentiam a vontade, inclusive, para questionar determinada maneira de jogar. Dando sequência, um líder deve ter a sensibilidade de mudar sua decisão e sua atitude para o bem comum. Ter entendimento de que "o seu agir" tem como mola mestra a estrutura que o clube o oferece e que o seu papel determinante é gerir os recursos dentro do que é justo. Em tempo, as considerações descritas acima não questionam e nem citam perfis de líderes, as características citadas são gerais e devem ser comuns a todos os perfis independente do estilo de cada comandante.
               Diante disso, percebemos a importância de um líder coeso com os objetivos da equipe e clube. A forma de agir do treinador vai dizer muito sobre sua equipe, vai nortear a rotina e vai estimular o compromisso. Seu papel deve ter como busca a excelência, as expectativas devem girar em torno de competitividade ao máximo, em determinação e compromisso. Seus critérios devem ser justos e em consonância com os do grupo e do clube. É preciso pensar nessas possibilidades e dialogar sobre a nossa maneira diante de nossas equipes. Questionar nosso papel como líderes e estimular um constante debate interno.

               Muito obrigado pelos acessos.... DEUS abençoe a todos....

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Coletivo x “Jogo Tático”

             Paulinho Gambier é um treinador de futsal brasileiro com passagens por equipes como Unisul/Tubarão e Krona/Joinville além de equipes do exterior. Atualmente no Al Salmyia do Kuwait onde sagrou-se campeão da liga 2011/2012. No texto abaixo, ele expressa as dúvidas, as incertezas e as inseguranças às quais somos, invariavelmente, acometidos ao longo da nossa trajetória no comando de equipes de futsal. Uma leitura que nos coloca a par     daquilo que passamos e, nem sempre, imaginamos que passem os grandes treinadores. Por fim, ele destaca a importância de se acreditar em sua abordagem metodológica e na manutenção de procedimentos. Em tempo, obrigado por sua colaboração professor.

        Muito se comenta sobre os jogos didáticos para os treinamentos e cada dia mais, treinadores aplicam esse método. Porém não é tão simples assim, já que o mais importante não é aplicar os jogos e sim fazer com que o atleta entenda o porquê de cada jogo, os objetivos a serem atingidos, tanto táticos quanto técnicos. Podemos aplicar o mesmo jogo didático em duas equipes diferentes. O objetivo será atingido, dependendo da mensagem e das correções feitas por cada treinador.
             Por ter trabalhado em colégios, que tinham como linha didática o construtivismo, tenho aplicado esse método por mais de 20 anos em equipes brasileiras e há quase 15 anos, não faço uma sessão de treinamento só com coletivo. Utilizo no máximo 15 minutos e mesmo assim cobrando alguma parte tática, o que chamo de coletivo direcionado, onde induzo uma defesa ou um ataque para cada equipe executar.
       Iniciei aplicando nas categorias de base e posteriormente nas adultas. Tenho comprovado ao longo deste tempo resultados positivos, com uma resposta muito rápida no aprendizado técnico e tático, além de deixar o treinamento mais motivado, onde aplico vários jogos diferentes dentre eles, com o mesmo objetivo, porém com estratégias diferentes, assim criando um ambiente lúdico, potencializando a criatividade dos atletas que se mostra tão importante no jogo de futsal.
              Esta pequena introdução serve para ilustrar minha experiência aqui no Kuwait, onde o desafio de aplicar esse método seria muito grande, como foi em algumas equipes no Brasil, onde no início se tinha a cultura do coletivo e por aqui não foi diferente, ainda somado com a barreira da língua muito diferente.
              Na primeira semana de treinamentos já fui introduzindo alguns jogos para trabalhar os fundamentos, como: passe, linha de passe, finalizações, marcação, fugidas, etc. Estava à vontade e como já era habituado a fazer no Brasil, fui fazendo, até que um dia, próximo a um jogo amistoso que foi marcado, devido a proximidade do inicio do campeonato, veio o questionamento que eu estava esperando sobre o coletivo, para preparar a equipe para o jogo. Foi nesse momento que com toda dificuldade da língua, já que meu inglês é de colégio, precisei dar minha mensagem, explicando o porquê daquele tipo de treino e da não utilização de coletivos. Precisei ter o bom senso de saber que não poderia mudar tudo de uma hora para outra, que faria alguns coletivos. Fui para o hotel com uma dúvida na cabeça: se iria conseguir aplicar o método que eu mais acreditava
          Minhas dúvidas acabaram no dia seguinte. Quando iria começar o treinamento, dois atletas, com certa ascensão no grupo, me chamaram e pediram para que eu continuasse aplicando os jogos, que não precisava fazer coletivo e fiquei muito feliz em saber que a mensagem foi entendida e o grupo comprou a idéia do treinamento.
             Estou aqui na minha segunda temporada e ainda não apliquei nenhum coletivo. Nunca mais fui questionado, meus atletas entenderam que os jogos são coletivos com objetivos a serem atingidos em cada sessão de treinos.
          Esta experiência me fez acreditar ainda mais nesse ambiente lúdico que os jogos táticos proporcionam, desafiando não só os atletas em atingir os objetivos propostos, mas também aos treinadores, tendo que criar novos jogos para desenvolver os fundamentos técnicos e táticos, melhorando a estrutura tática de sua equipe, conforme sua ideologia própria para o jogo de futsal.

Escrito pelo Técnico Paulinho Gambier   

Assessor: Thiago Aguiar

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Futsal, Fut 7, Futebol de Areia, Showbol e Futebol

               
             Nos últimos anos temos presenciado um aumento no número de modalidades próximas ao futsal e ao futebol, vemos o showbol, futebol de areia e também o Futebol 7. Similares ao futebol apenas na questão de ser um jogo de confronto entre duas equipes com os mesmos pressupostos quando se ataca e defende; as características de cada esporte os tornam marcantes e apaixonantes, haja vista o quanto cresceu na questão de aproximação e interesse do público. Entre si, os demais "primos pobres" do futebol são bem mais próximos. O tamanho do terreno de jogo, relação espaço e tempo, número de jogadores, substituições, arbitragens, regras, proximidade da torcida, etc são características que os aproximam. No que tange a prática, os primos pobres do futebol se espelham, ainda, no rico, comendo as migalhas que restam se submetendo as sandices da tia FIFA. Isso se deve ao fato do advento gerado a partir da chancela da FIFA nas organizações de competições internacionais.
               Nos últimos anos, estamos acompanhando, com grande destaque, os campeonatos de fut 7 e showbol em várias redes de televisão fechada. Essa massificação dos primos do futebol vive uma ótica muito particular. Diferentemente do futsal e do futebol de areia que já possuem uma identidade própria, sem precisar se aproprias das migalhas do "primo rico" o fut 7 e o showbol ainda não se encontraram enquanto esportes. No caso do fut 7 acho que ele nem precisaria se apropriar de ex atletas de futsal e nem futebol, pela prática em massa no nosso país acho que tem condições de seguir com suas próprias pernas - quero deixar claro que sempre tem lugar para a qualidade, vinda ela do futebol ou do futsal e de qualquer faixa etária. Já o showbol é outra história, acho que se enquadraria como um peladão formal para veteranos, ex atletas e a baba dos demais, não creio que tenha força para uma massificação. Entretanto, acho de fundamental importância que ele seja reconhecido para valorizar quem já fez a história dos clubes e, as vezes, necessita trabalhar com aquilo que mais gosta.
               Ao comentar a iniciação esportiva, seria interessantíssimo uma união entre todos os esportes. Na Europa, pelo tamanho do campo e quadra, vários clubes e federações se utilizam do fut 7 e do futsal na iniciação, com o intuito de fomentar as equipes de futebol. 
             Por tudo isso, se evidencia um mercado de trabalho bastante amplo e diversificado com todos os primos, rico e pobres. Sendo fundamental assumir uma identidade enquanto esporte, se auto relacionar com os demais passando a ser peça chave na engrenagem esportiva de nosso país. Por fim, parabéns a todos os futebolistas, futsalonistas, futebolistas de 7 e peladeiros de showbol, sem vocês nossos "primos" não existiriam. 

               Um grande abraço a todos e que DEUS os abençoe...
           
         

terça-feira, 28 de agosto de 2012

A ruptura de paradigmas

           O trabalho com futsal, futebol e qualquer esporte coletivo de maneira geral nos coloca numa posição muito particular na sociedade. Entender os esportes como transformadores vai muito além da disciplina. Nessa perspectiva, podemos viajar por outras facetas de nossa sociedade.
               Ao longo dos anos de nossa alfabetização, quem iniciou em meados de 80 sabe bem do que estou falando, passou pela caligrafia, pelo aprendizado letra por letra, pela mecanização da língua. O pior, crianças eram "treinadas" a desenhar as letras sem ter o controle de sua motricidade fina, escrever sem a capacidade motora de controlar o gesto meticuloso de fazer a letra g, ou o w, f, enfim... Um pouco antes, década de 50, 60 talvez, crianças que nasciam sinistras (canhotas) eram "treinadas" a inibir uma característica inata a elas para se tornarem destras (direitas). Poderíamos dialogar um dia inteiro sobre as várias manifestações de "treinamento social" as quais fomos submetidos ao longo da história. Politicamente, sempre fomos instruídos a levar em conta as questões individuais e maniqueístas do mundo.
               Nos esportes vemos a mesma coisa e o que é pior, hoje em dia ainda é uma premissa. Estamos acostumados a ver escolinhas, clubes, universidades - isso mesmo, academia, pasmem - a tratar o esporte dessa maneira. Esse lamentável equívoco demonstra o perfil conservador, intransigente, autoritário e muito pouco inteligente de quem comanda. Revelar a faceta crítica de nossos alunos, atletas, evidencia nosso compromisso com uma sociedade mais justa e crítica, mais humana e justa.
               Mas como fazer? Em primeiro lugar... Para fazer diferente, é preciso muito desprendimento, desapego a ordem cartesiana. É necessário entender o mundo de maneira totalitária, respeitando as fases do desenvolvimento, as características, as peculiaridades de quem transita pelos esportes. Em segundo lugar, é fundamental que se mantenha a essência daquilo que se acredita. Jamais fuja do modelo principal. Em terceiro lugar, faça disso uma filosofia de vida, aplique em teu dia-a-dia, se assuma de forma total, o velho chavão "profissionalmente é uma coisa, pessoalmente é outra" deixa de existir. Tu és único e quem está contigo também. Com essas questões em nossa cabeça, mudamos o nosso ponto de vista, criamos um conceito novo acerca dos esporte e de seu desenvolvimento. Isso vale desde a iniciação ao alto rendimento, pois como falei anteriormente "somos únicos". Em tempo, sabedoria pra avaliarmos a melhor maneira faz-se essencial e, se quisermos criticidade, teremos que tê-la como base também.
               Por fim, reitero o compromisso do esporte com o mundo. Suas responsabilidades estão intrínsecas a prática e não são corretivos das mazelas sociais. Evidencie a crítica, traga ao imprevisto a aula, ao treino, traga a dúvida, eleve a discussão contigo mesmo e com os demais e tua aula-treino terá um rendimento satisfatório, além de uma qualidade notória do rendimento esportivo.
               Um abraço bem cinchado a todos e que DEUS ilumine a todos...