segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Como o Brasil torce...

Público na Arena da baixada em Curitiba, antes da paralização para as reformas visando a Copa 2014


O blog do Beto Zini é um dos que mais busco notícias do futebol gaucho. Nele, encontrei essa entrevista tri legal galera. Espero que gostem...
http://wp.clicrbs.com.br/boladividida/2012/09/23/como-o-brasil-torce/?topo=13,1,1,,,13...

Como o Brasil torce


Nascido na Costa Rica, na América Central, 38 anos, torcedor do Flamengo, o professor, pesquisador e escritor Bernardo Borges Buarque de Hollanda estuda o futebol na cultura brasileira. Nesta entrevista, ele trata da torcida.
"É possível dizer que desde o final dos anos 1960 as autoridades britânicas estavam em busca de soluções para o comportamento “hooligan” na Inglaterra. O Relatório Taylor, de 1968, documenta esta preocupação, logo após a realização da Copa do Mundo naquele país. Depois de uma década e meia tentando contornar essa situação, o hooliganismo atingiu um limite crítico entre 1985 e 1989, quando ocorreram as tragédias nos estádios de Heysel e Hillsborough, com mais de uma centena de mortos. Neste momento, a perplexidade e a crise moral levaram os gestores ingleses – polícia, organizadores, patrocinadores - a rever toda a política econômica do futebol. Isto começou com a revisão radical da infraestrutura arquitetônica, que acabou, por exemplo, com os alambrados e as separações físicas entre campo e arquibancada, de modo a evitar mortes por superlotação" (Buarque de Hollanda).
(O verbo “torcer” ganhou novo sentido no futebol nos primeiros estádios de futebol da belle époque carioca, ainda no século passado. Em determinados momentos da partida, as mulheres, nervosas, torciam os lenços. Assim, “torcer” passou a ser associado ao calor das arquibancadas.)
Zini – Qual o impacto da Copa de 2014 sobre as torcidas organizadas no Brasil?
Bernardo Buarque de Hollanda – O impacto será parcial e indireto, uma vez que, se as torcidas organizadas participavam dos jogos da Seleção Brasileira até os anos 1980, nas últimas décadas, ao menos nas partidas realizadas no Rio de Janeiro, existe a política de policiamento que não permite a entrada dos uniformizados, a fim de evitar o estímulo às rixas clubísticas.
Zini  – Os novos estádios, as arenas, podem mudar o comportamento da torcida brasileira? Teremos torcedores mais comportados?
Buarque de Hollanda – As dimensões espaciais dos estádios refletem concepções não apenas arquitetônicas como de ordenamento social. Os formatos induzem a um tipo de comportamento desejado. Em uma entrevista concedida nos anos 1990, o arquiteto francês que projetou o Parque dos Príncipes, estádio do Paris Saint-Germain, revelou que o modelo para a construção daquela arena havia sido um zoo, por isto a existência de um fosso entre o campo e as arquibancadas. Depois das tragédias em estádios na Inglaterra, os fossos foram abolidos, como o será agora, com o novo Maracanã.
Zini – A plateia dos estádios (o torcedor) fará parte do novo espetáculo? Ou o futebol do futuro pode prescindir dos torcedores? Transformar tudo num espetáculo televisivo?
Buarque de Hollanda – Parece mais plausível pensar em uma ressignificação do modo de torcer do que no fim das torcidas. Justamente porque é um espetáculo televisivo, a tevê necessita da participação do torcedor, como forma de passar a sensação de emoção, exibindo a performance coletiva dentro do estádio. Por exemplo, nada mais performático para a televisão do que mostrar a “avalanche” da torcida do Grêmio após o gol do time. Boa parte das torcidas hoje atua com a consciência de que estão sendo filmadas, vide o próprio tamanho das faixas, em letras garrafais e dispostas em posições estratégicas para a captação das imagens. No Engenhão, duas torcidas organizadas, a Fúria Jovem do Botafogo e a Young-Flu, deixaram o setor atrás do gol e rumaram para o meio de campo, de modo a ficar estrategicamente situadas em frente à televisão.
Zini – Por que a violência faz parte do modo de vida das torcidas organizadas no Brasil?
Buarque de Hollanda – Não diria apenas no Brasil. Existe uma subcultura internacional de jovens torcedores, com três matrizes nacionais exportadas nos anos 1980: o modelo hooligan na Inglaterra, os ultras na Itália e os barra-bravas na Argentina. Nos três, há o apelo e a sedução grupal por condutas violentas, a partir do mecanismo básico de contraposição identitária: nós-eles. As diferenças se dão por conta do caráter instrumental da violência, ora como meio (as circunstâncias levam a soluções violentas), ora como fim (já existe uma premeditação para o confronto).
Zini – Qual o papel da tevê na transformação dos estádios?
Buarque de Hollanda – O papel da tevê é decisivo na alteração da fisionomia dos estádios. Ela altera a própria apreensão perceptiva de quem está nas arenas, haja visto a introdução dos telões. Torcedores, técnicos e jogadores são condicionados a ver os lances nessas telas gigantes, quando a distância e o ângulo de visão dificultam o acompanhamento do jogo. A média de capacidade dos estádios passa a ser 40 mil espectadores, o que garante boas receitas com ingressos majorados e facilita os mecanismos de controle por parte da polícia, com assentos numerados e predeterminados.

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